Nesses últimos dias, tenho refletido muito acerca do ministério pastoral e os desafios por ele proposto. Ao conversar com muitos "colegas" de ministério, a queixa mais comum é a ausência de amigos ou irmãos que apenas se disponham a conversar, compartilhar ou mesmo dividir responsabilidades. Deixando um pouco de lado a relação entre "pastor e ovelha", onde o pastor deve estar sempre atento, presente e disposto a socorrer, servir e aconselhar, a impressão que temos é que as pessoas estão cada vez mais distantes daqueles que foram chamados por Deus para pastorear.
É fato, que muitos "pastores fraudulentos" estão espalhados no meio do rebanho, homens mercenários cujas intenções nunca estiveram ligadas ao "bem" da ovelha, mas aos "bens" das ovelhas. As distorções do evangelho e da genuína doutrina, a comercialização dos dízimos e da administração eclesiástica dos recursos da igreja enquanto instituição, podem até ser apresentadas como uma espécie de desculpa ou pretexto para a gritante mudança do perfil e do comportamento de muitas "ovelhas" na relação com o seu pastor, contudo, nada justifica o desinteresse e desconfiança evidenciada no coração de muitos.
Houve um tempo, que receber a visita do pastor era uma honra, uma alegria, e em muitos casos, a visita era considerada até uma necessidade espiritual em partilhar momentos de oração e reflexão na Palavra de Deus. Hoje, as coisas mudaram e já não vemos reciprocidade nessa relação, seja por negligência da parte de alguns pastores ou pela indisposição de muitas ovelhas submetidas ao ativismo, egoísmo ou mesmo dureza de coração, que é a má vontade.
Tendo plena convicção de que o ministério pastoral não é uma profissão, mas um dom divino, não é algo para convenientes, mas vocacionados, acredito que Deus ainda continua usando os seus servos a fim de zelar e cuidar do seu rebanho como nos ensina a sua Palavra.
Ainda que a figura do pastor seja sempre apresentada por muitos como a de um super-homem ou “homem infalível”, sabemos que os pastores estão sujeitos, de igual maneira, aos tropeços e fracassos da vida terrena, e talvez por essa razão, nunca se ouviu falar tanto de pastores enfermos, tristes, deprimidos ou mesmo estressados. O notório desânimo de muitos é resultado de incompreensões, traições e da má vontade daqueles que só pensam em si mesmos, não valorizando os esforços de quem muitas vezes deixa de viver a própria vida para viver as perspectivas dos outros.
Hoje, a quantidade de igrejas para todos os gostos e tipos de religiosos, juntamente com a relativização do evangelho e da Palavra de Deus, promovem dentre outros males a “auto doutrinação” de muitos e ofuscam a figura do pastor como escolhido de Deus para conduzir o povo para o céu. Infelizmente, a conveniência confronta a obediência, impedido as pessoas de se submeterem aos pastores por amor a Cristo e à sua Palavra. A firmeza na doutrina, marca registrada do ministério de Cristo e seus apóstolos, deixou de ser um critério para muitos crentes, já que estão envolvidos com as coisas terrenas, não mas importando o cuidado pastoral, mas a constante massagem do ego falaz de corações mundanos.
Como muitos podem ser amigo de um pastor que apesar de valorizar a “amizade”, cobra e fala não o que querem ouvir, mas aquilo que precisam ouvir? Como obedecer a um pastor, cujas decisões muitas vezes vão de encontro às conveniências dos religiosos? A verdade não ofende os que vivem em obediência, só “ofende” os que não vivem por ela. A obediência só é útil àqueles que amam verdadeiramente a Palavra de Deus e a sua obra.
Assim como Jesus, um pastor escolhido por Deus não precisa de “servos”, bajuladores ou interesseiros, mas de amigos, seja em momentos de alegria ou em momentos difíceis. Quem ama o seu pastor nem sempre está abraçado com ele ou vive vinte e quatro horas “agarrado”, mas sempre que pode lhe presta respeito, seja na presença ou na ausência, no olhar ou no aperto de mão. Uma coisa é certa, aquele que ama o seu pastor e dele é um amigo, o faz por obediência e temor ao Senhor.